[Livro] Preconceito Linguístico, Marcos Bagno



Como um escravo livre das correntes que lhe prendiam desde a infância, como um cego que consegue ver o horizonte pela primeira vez. Pode parecer exagero, e talvez seja, mas foi assim que me senti ao ler este pequeno calhamaço de papel aparentemente sem valia nenhuma com capa e título pouco apelativos.

Nunca gostei de livros que me eram passados como "leitura obrigatória", isso sempre me causou aversão no Ensino Médio e me fez ter vontade de voltar no tempo e matar a sangue frio escritores famosos, antes que eles chegassem a escrever aqueles livros "ridículos e sem sentido" que figuravam nas listas dos vestibulares mais famosos.

Agora dentro de uma faculdade, logo o primeiro livro que me é indicado consegue me livrar do trauma pré-vestibular a que fui submetido. (drama). Marcos Bagno consegue algo ainda maior com sua pequena obra, consegue me libertar das correntes da gramática normativa.

Ok, confesso que o preconceito linguístico ainda está incrustado no meu jeito de ser, ainda sinto uma agulhada quando a Cleusa diz que seu nome é Creusa, ou quando "os carro quebra" na rodovia. Mas este processo de deslavagem (Léxico Fabianês) cerebral vai durar um tempo, aprender que nada é errado na língua falada é um desfaio para quem foi condicionado a pensar que existe um "jeito certo" de se falar, e que ele mora dentro de um livro com "leis" gramaticais.

Ainda defendo a norma culta do português escrito, ela está lá para facilitar. Mas como Bagno diz, ela tem que se modernizar e seguir o curso do rio da língua falada.
Está na hora dos gramáticos reformularem e modernizarem seus conceitos.

Bagno também faz questão de enfatizar que, embora escritos da mesma maneira, o Português falado no Brasil não é igual ao falado em Portugal e nem por isso ele está "menos certo" ou é "inferior". Brasil e Portugal são países distintos, com culturas distintas, com tamanhos distintos e com um oceano os separando. Estranho seria se falássemos da mesma maneira.

O livro destaca também o papel preconceituoso desempenhado por gramáticos famosos, como o do professor Pasquale, defensor de um "jeito certo" de falar que não existe, nunca existiu e não existirá. Esta atitude só ajuda a aumentar o sentimento de inferioridade linguística que o brasileiro já tem.
Bagno não quer matar a gramática, quer que ela se modernize e acompanhe a evolução da língua da meneira que deveria. A gramática normativa do português tem séculos de existência e não reflete mais a língua utilizada hoje.

E o melhor ponto é levantado logo no início do livro: Quem deu autoridade aos gramáticos para dizer que 200 milhões de brasileiros não sabem falar sua própria língua?

Recomendadíssimo para qualquer um ser humano existente no universo, Preconceito Lingístico é provocativo, intenso e devolve a língua a seu verdadeiro dono, quem a fala. Obrigado Marcos Bagno por ter escrito esta carata de alforria aos falantes do Português Tupiniquim.

Atualizado em 25/12/2013
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