[Fanfic] As Flores do Meu Jardim #4


* Não Recomendado para menores de 18 anos *

Capítulo IV – Verdades

Sinto cheiro de arroz, feijão e carne assada. Hoje é sábado e todo sábado minha mãe vai para a casa do seu namorado bem cedo, não me perguntem como ele é porque eu não sei. Nunca quis conhecê-lo.  Levanto da cama e olho meu celular, ele aponta 11h30, quase na hora do almoço, vou para a cozinha e fico paralisada.

Choque. Minha mãe está com a barriga no fogão fazendo um almoço enorme. Ela é alta, diferentemente de mim, com cabelos loiros artificiais, pelo com bronzeamento artificial e peito e bunda também artificiais. Ela vira para pegar alguma coisa em cima da mesa e me vê. Com um sorriso no rosto ela vem me abraçar, mas estou muito chocada para realmente perceber.

- Bom dia filha. Tudo bem?

- Sim. Quem está chegando? – pergunto sem rodeios. Minha mãe nunca está em casa, muito menos de sábado e para fazer comida alguma coisa muito especial está para acontecer.

- Não é ninguém não Sofia. Pode ficar tranqui...

- Pare de mentir. – o tom da minha voz muda - Quem está chegando?

- É... O Leo. Ele vai almoçar com a gente hoje. – Minha mãe tem a cara de pau de sorrir enquanto diz essa frase.

- O QUE? – grito – Você está louca?! Você sabe que eu o odeio. Por que ele está vindo pra cá?

Leo é o namorado da minha mãe. Não sei como ela arranjou o namorado. Ela diz que o conheceu quando estava trabalhando, e que logo depois um se apaixonou pelo outro. E é por isso que eu acho mais estranho o relacionamento deles, mesmo ele sabendo no que minha mãe trabalha, ele não fez nada para fazê-la parar ou para arranjar outro emprego pra ela. Então desde quando ela anunciou seu relacionamento com ele neguei totalmente e nem quis ver sua cara. Mas pelo jeito ele deve ser um sem vergonha.

- É bom você abaixar esse tom comigo mocinha. – ela está começando a se irritar – E respondendo a sua pergunta, ele está vindo pra cá porque está na hora de você conhecê-lo. E, além disso, porque você sempre ignora as coisas que eu tenho Ra falar ou quando você quer ir pra casa dos seus amigos, nunca conheci nenhum deles. – estamos nos encarando como se fosse mos participar de uma luta de espadas, mas nossas armas são nossa língua e inteligência.

- Eu ignoro? – meu tom continua o mesmo - Na verdade eu sempre procuro fugir desse seu mundo! Eu tenho vergonha do seu trabalho, eu tenho vergonha de falar pro meu amigo como é que você me sustenta. – Droga! Acabei de falar em voz alta que eu tenho um amigo.

- Não é fácil sustentar uma casa e uma garota sozinha. Eu tive que achar meus meios.
- E isso inclui abrir as pernas para qualquer um que te oferecer dinheiro?

- Mas é isso que coloca comida na nossa mesa – sua voz está baixa e seus olhos mostram toda a vergonha que ele sente por me fazer passar por isso.

- Eu preferiria passar fome a fazer um trabalho desses. - digo com a voz glacial e um olhar duro – V ou sair. Volto na segunda feira. – arrependo-me de dizer isso logo que vejo seu olhar de desespero.

- Por favor, não faça nenhuma besteira. Fique. – suplica.

- Acalma-se, não farei nada. – e saio andando apressadamente para o meu quarto.

Troco de roupa, pego minha mochila de dentro do guarda e coloco várias roupas dentro junto com meu celular, carregador e meu sempre presente fone de ouvido. Não quero passar pela minha mãe, pois a porta da casa fica na cozinha, então abro a janela e desço a escala lateral que dá no jardim dos fundos. Quando passo pela janela da cozinha a vejo sentada na mesa de jantar chorando. Meus olhos se enchem de lágrimas e minha vontade é jogar as coisas no chão e ir correndo consolá-la, mas meu orgulho fala mais alto e eu continuo caminhando e cantado e seguindo a canção¹.

***

Está anoitecendo, estou morrendo de fome e provavelmente terei que dormir na rua se eu não arrumar algum abrigo. E para não perder o costume estou em uma praça, mas essa fica no meu bairro, é um pouquinho pra frente da casa do Matheus...

Verdade! Tem o Matheus. Como eu sou burra deveria ter pensado nisso antes. Levanto rápido e coloco a mochila nas costas. A casa do Matheus é a dois quarteirões daqui. 

Chego a casa dele e está tudo no mesmo lugar que estava a apenas quatro dias atrás, só alguns dos vasos no jardim estão com algumas flores. Toco a campainha e espero algum sinal de vida. Quem abre a porta é o Matheus, ele está usando uma calça de moletom e está sem camisa exibindo todo aquele abdômen definido e bronzeado.

- Você se importaria se eu ficasse aqui até segunda? – pergunto rápido. Se eu demorasse em falar uma coisa dessas, provavelmente perderia toda a coragem.

- Estou bem e você Sofia? E é claro você sempre será bem vinda aqui, mas para passar precisa me falar uma coisa. Por que você veio aqui? – diz ele com um sorriso nos lábios.

-É que você é meu único amigo... – minha voz está quase inaudível.

- O que? - Diz ele se aproximando - Não entendi direito.

- Você é meu amigo, então só pensei em você – digo um pouco mais alta.

Ele olha pra mim com um olhar de preocupação e me puxa para um abraço. Num dia normal eu não teria retribuído, mas hoje não tive escolha, afinal não é todo dia que arranjo um amigo tão chato. Uma vez que estou em seus braços começo a chorar baixinho na curva de seu pescoço e ele me aperta mais.

- O que aconteceu Sofia? – ele segura meu queixo e levanta a minha cabeça para olhar nos meus olhos. – Você nunca me procuraria num dia normal e você nunca é emotiva. Estou preocupado.

Não tenho como falar agora, tenho certeza que se eu começar a falar irei chorar mais. Apenas nego com a cabeça me leva pra dentro da casa. Sua mãe assim que vê minhas lágrimas vem correndo me perguntando o que aconteceu pra minha sorte o Matheus fala pra mãe que eu preciso descansar e me leva para seu quarto. 

- Aqui – diz ele me entregando uma camiseta – coloque isso e durma. Você precisa dormir e se acalmar. Amanhã irei descobrir o que tanto lhe aflige, mas hoje cuidarei de você. 

Pego a camiseta agradecida e vou para o banheiro ao lado do quarto, troco de roupa, lavo o rosto e quando estou de volta sua cama está arrumada para dois – detalhe, a cama era de casal. Ouço uma voz na minha mente gritando: alarme!

- Sua mãe não vai estranhar que estaremos dormindo no mesmo quarto? – pergunto franzindo o cenho e 
disfarçando o meu desconforto, tentando parecer normal.

- Não, ela confia em mim, mas qualquer outra questão será esclarecida amanhã. Vem. – ele aponta a cama levantando os cobertores. Deito-me obedientemente na cama e ele me cobre dando um beijo na minha testa. – Boa noite. Durma com os anjos. – sussurra contra minha testa e apagando a luz do abajur.

Ele deita ao meu lado, mas respeitando meu espaço, uma ação que me agrada e me ajuda a dormir mesmo que eu ainda esteja pensando o que ele pretende fazer comigo quando eu estiver dormindo.

Nota do autor(a): ¹ Trecho de Para não dizer que não falei das flores de Geraldo Vandré.
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