[Filme] A Festa de Babette (1987)


É fácil resumir A Festa de Babette em apenas uma frase: Uma surpresa extremamente agradável.

Tinha acabado de assistir um filme complexo e ridículo lançado em 2013 quando resolvi assistir a esta bela obra de arte dinamarquesa, nunca tinha assistido a uma produção do país e, se todos seguirem os passos deste confessarei que o cinema francês tem um belo concorrente.

A Festa de Babette começa contando a história de duas irmãs, filhas de um pastor, elas continuam a manter as obras de caridade do pai e sua seita cristã, apesar da idade avançada. No passado ambas eram as mulheres mais bonitas de uma aldeia minúscula no meio do nada. Como sempre foram muito devotas, só saiam para ir a igreja com o pai, nunca atendendo a festas e bailes.

Certo dia um soldado é enviado para a aldeia pelo pai, que acreditava que o campo o faria um homem melhor, ele se hospedaria na casa de uma tia. Mesmo contrariado ele segue para a pequena aldeia, conhece a tia e, num passeio pelo lugar, conhece uma das filhas do pastor e se apaixona imediatamente por ela. Algum tempo depois, passa a frequentar a casa do pastou mas acaba tendo que voltar para a cidade grande.

Mais tarde um cantor de ópera acaba indo para a mesma aldeia em busca de paz e tranquilidade, lá ele se sente deprimido pois acredita que sua carreira já está no fim. Numa visita a igreja do pastor ele se apaixona pela voz da outra irmã, resolve lhe dar aulas de canto, se apaixona por ela, e acaba rejeitado pela moça.

É aí que começa a história de Babette. Na França, uma guerra civil assola Paris, a capital está vivendo um de seus piores dias e os cidadãos fogem para não sofrerem as consequências da batalha. Babette perde na guerra o filho e o marido, foge então para a pequena aldeia portando uma carta de recomendação do mesmo cantor de ópera que se apaixonou por uma das irmãs.

As irmãs não tem dinheiro o suficiente para garantir-lhe o salário, mas Babette não se importa, passa a trabalhar de graça como empregada e cozinheira de ambas as senhoras. A seita do pastor já não vai muito bem, os membros brigam constantemente e as senhoras já não mais conseguem controlá-los. Babette é querida por todos e muito respeitada em todo o vilarejo.

Tudo está bem e todos estão relativamente felizes até que Babette recebe uma carta vinda a França. Mesmo de longe ela pedia que um de seus parentes comprasse para ela bilhetes mensais da loteria, e a carta trazia a boa notícia, ela havia ganhado.

Babette fica extremamente contente com a notícia, e pede as senhoras que a deixe preparar e pagar por um banquete francês legítimo para comemorar o centenário do pastor, que já havia falecido. Após certa relutância as senhoras concordam, afinal, Babette nunca lhes havia feito um pedido em todos os anos que trabalhava para elas.

Babette começa então os preparativos, viaja até o porto para pedir que seu sobrinho traga ingredientes diversos diretamente de Paris. Quando a mercadoria chega, as senhoras ficam espantadas, acostumadas a comer peixe e pão elas nunca tinham visto nada parecido. Um barco trazia uma cabeça de boi, uma tartaruga, codornas vivas, vinho e mais uma porção de iguarias (incluindo um bloco de gelo).

As senhoras, preocupadas com o banquete, chamam todos da ceita para uma reunião. Ninguém deveria comentar sobre a comida, já que Babette provavelmente era uma bruxa. Deveriam, portanto, comer e lembrar apenas do pastor e de seus ensinamentos. Todos concordam.

No dia do jantar, um convidado surpresa aparece. O soldado, pelo qual uma das irmãs se apaixonou, retorna da cidade grande como um general cheio de vitórias. E é no jantar, espantado com a boa qualidade da comida, que ele nos revela algo inimaginável. A verdadeira identidade e o tamanho da generosidade de Babette.

Um longa de enredo perfeitamente escrito, com cenários muito bem montados e com personagens apaixonantes. A Festa de Babette trata assuntos diversos como a religiosidade, a inocência, a ignorância, o amor e a generosidade de uma maneira que eu nunca havia visto antes.

Perfeitamente inserido no contexto do século XIX, é muito fácil imaginar as cenas do filme como sendo fruto de fatos verídicos. A inocência das irmãs ao acreditarem que Babette era uma bruxa, simplesmente porque cozinhava com ingredientes que elas nunca haviam visto, ou pensado em usar é um toque sutil e que tem um efeito incrível no desenvolvimento da história.

A Festa de Babette é um convite para pensar e refletir sobre a nossa vida, será que tratamos os outros suficientemente bem? Será que nossas crenças não nos fazem julgar as pessoas que são apenas um pouco diferentes? Será que abriríamos mão de uma vida tranquila e com dinheiro o suficiente simplesmente para realizar, apenas uma vez, a coisa que mais no dá prazer? Babette o fez, gastou seu prêmio da loteria para alimentar as pessoas simplesmente pelo prazer que tinha em cozinhar. Mas Babette não é uma cozinheira qualquer, é uma artista e... com certeza, os artistas preferem mil vezes o sentimento que obtêm de sua arte, a qualquer punhado de notas e moedas de ouro.

Se indico? Mas é claro! A Festa de Babette é um dos melhores filmes que já vi.

Atualizado em 02/11/2013
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