[Livro] Orgulho e Preconceito e Zumbis, Jane Austen & Seth Grahame-Smith
Nunca lí o clássico da literatura inglesa que serviu como ponto de partida para nosso amigo Seth Grahame-Smith, que também é o autor de Dark Shadows [resenha], na criação desse mash up literário. Para quem não sabe mash up é quase um plágio disfarçado, ou seja, se copia boa parte da obra original e se adiciona algumas coisas diferentes. Quer uma analogia? Você tem o leite, mas acha que não está bom, então você põe achocolatado nele e fica uma delícia.
Como não li o leite, digo, o clássico Orgulho e Preconceito de Jane Austen, e como ela já não está mais entre nós, ou seja, não pode processar ou criticar nosso amigo cineasta/escritor, vou dar minha opinião sincera sobre o livro como se ele fosse uma criação original. E não um mash up. Não me crucifiquem, sei que ignorar a autora do livro original é sacanagem, mas eu não lí, então pra mim o livro dela está numa realidade paralela me esperando.
Voltando a versão moderna, confesso que comprei o livro porque a capa me atraiu e eu achei o título intrigante. A capa me atraiu porque tem um zumbi, o título também, então o livro não pode ser ruim. Claro que zumbis não são sinônimo de qualidade, mas são sinônimo de sangue, cérebros e fim do mundo, que são assuntos que me atraem.
O início da leitura foi interessante, as primeiras páginas fluíram bem, tudo era novo e a descrição dos costumes ingleses de dois séculos atrás me fizeram me interessar cada vez mais pela obra. A linguagem é bem rebuscada, o que me fez consultar uma entidade superior algumas vezes (Pai Dicio, o dicionário), mas uma rotina começou a se formar na narrativa me deixando cada vez mais desinteressado apesar de ficar sempre na expectativa de algo surpreendente acontecer.
O livro conta a história de Elizabeth, uma das cinco filhas do Sr. e da Sra. Bennet, moradores do interior da Inglaterra. A família não é muito rica, mas vive bem em sua propriedade. A Inglaterra está no meio de uma epidemia, uma praga que traz os mortos a vida, e eles não hesitam em sair das sepulturas em busca de cérebros, as filhas dos Bennet são mestres nas artes mortais, estudaram na China com o Mestre Liu, e são basicamente matadoras oficiais dos "Filhos de Satã" na cidade a pedido do Rei.
Elizabeth é a que melhor domina as artes mortais, e é conhecida por isso. A história se desenrola com encontros sociais entre os Bennet e seus vizinhos, viagens as cidades próximas, encontros com zumbis sempre muito bem descritos (sendo que certa vez eles encontram até um bebê zumbi), e muita cerimônia, muito orgulho, e algum preconceito.
Lá pelo meio do livro há uma mudança brusca, o Sr. Darcy, conhecido da família Bennet de um Baile e até então pouco respeitado pela família e por Elizabeth que o considerava metido demais faz algo incrível que muda todo o rumo chato e "nos trilhos" do livro e o deixa extremamente interessante de novo.
Há quem diga que os zumbis só estão lá para trazer humor as passagens do livro, e essas tentativas são até visíveis quando o autor coloca os morto-vivos para comer couve-em-flor porque eles acreditam ter a aparência e a textura de cérebro. Convenhamos que imaginar centenas de zumbis atacando uma hortinha de couve-em-flor não é nada engraçado, e até eu, que não sou exímio conhecedor da aparência e textura de cérebros como são os alienados filhos de Satã, sei que o negócio é bem diferente de um couve-em-flor.
Apesar disso o humor ainda está presente, mas de uma maneira bem menos escancarada, os diálogos entre as moças, por exemplo, extremamente recatadas é hilário. Principalmente quando elas comentam sobre o volume nas "partes mais inglesas" dos cavalheiros. (muuuitos risos)
Todo o livro é muito bem escrito e as descrições dos cenários e das personagens são realmente incríveis, não sei quanto tempo passei imaginando as grandes muralhas cercando Londres para salvar a cidade dos ataques dos mortos-vivos, os grandes banquetes incrivelmente formais ou até o lugar onde cremavam os zumbis ainda "vivos".
A história é extremamente envolvente e, para os amantes da cultura européia do passado como eu (sim, sempre quis viver em 1800) é um prato cheio de detalhes e muito bem apresentado. Sem dúvida nenhuma vale a leitura, apesar dos Zumbis estranhos.